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SINASEFE se solidariza com professor do IFAM, alvo de perseguições pela política da ‘Lei da Mordaça’

 

Por: SINASEFE NACIONAL

 

No Instituto Federal do Amazonas, Campus Coari, um servidor docente foi duramente perseguido pela política da Lei da Mordaça. No último dia 14/10/17, Ygor Olinto teve seu nome estampado em um dos grandes jornais do Amazonas, acusado de “doutrinação petista”. Diante do absurdo, a Direção Nacional do SINASEFE presta sua solidariedade e disponibiliza todos os meios em seu auxílio, divulgando também a carta aberta do referido professor.

CARTA ABERTA DO PROFESSOR YGOR OLINTO

No último dia 14 de outubro, véspera do dia dos professores, a seção Pinga Fogo do jornal A Crítica veiculou um post que fiz no Facebook com a seguinte chamada: “Professor ataca alunos que resistem à doutrinação petista”. Lamentavelmente, a empresa não me procurou antes, durante ou depois desse evento. Não tive o direito de ser ouvido ou contextualizar o que disse. Apenas fui jogado à fúria ideológica que nos coloca uns contra os outros no país.

Essa fúria atinge colegas diariamente, nas salas de aula no ensino básico e mesmo na pós-graduação. Acompanhar as vexações que eles vêm sofrendo fez-me ceder à raiva. E lamento por quem se sentiu ofendido com a minha postagem. Ali, pretendia desabafar contra o avanço dessa política de censura e de perseguição que busca impor um pensamento único, inviabilizando o debate e a pluralidade democrática.

Nesse contexto, uma educação baseada nos procedimentos científicos está ameaçada, pois a dúvida sistemática e o enfrentamento crítico de “verdades” são alvos de uma racionalidade hostil que, no ambiente virtual, converte-se em arrogante discurso acusador e autoritário.

Se você, caro leitor, realmente acredita que nós, professores, dispondo de apenas duas horas semanais, podemos determinar a maneira de pensar de alguém, então peço que reflita sobre alguns pontos. Para além das escolas, os estudantes são bombardeados por informações no rádio, na televisão, na internet, no whatsapp, no youtube, no twitter, em casa, com os amigos, nas igrejas, nos outdoors, nas propagandas. O professor pode falar, explicar, inovar, mas isso não significa que aquele conhecimento será apropriado. Na verdade, dias depois eles já não lembram o conteúdo da aula anterior.

Algumas instituições de educação são arcaicas, sua estrutura e cultura organizacional não superaram modelos do século XVIII. Por isso, os jovens estão cada vez mais entediados com a escola. Se não a abandonam, eles resistem à tutela e ao projeto escolar, afirmando sua alteridade.

Se não bastassem essas dificuldades ainda seremos obrigados a propor “aulas” supostamente “neutras e imparciais”, que falem sobre os “pontos positivos e negativos” do Nazismo, do Fascismo e do Stalinismo? É possível relativizar a escravidão, ou pior, negá-la, como já se faz na internet com o Holocausto? Seremos rotulados como “petralhas” por abordar a revolta dos escravos em Roma, liderados por Espartacus?

A lei da mordaça é realmente obtusa e autoritária. Desenterra um positivismo que mal disfarça seus interesses – esses sim – ideológicos. Resistir, entretanto, não significa enfrentar os problemas. Ou alguém é capaz de defender a continuidade dessa escola arcaica? As propostas para amordaçar os professores se articulam sob a ideia de uma “audiência cativa” que seria “aliciada” pelos “doutrinadores”. Só há um jeito de enfrentar isso: revolvendo o solo por completo.

Devemos radicalizar o sentido de liberdade de aprender e de autonomia. O currículo deve ser apropriado de forma singular, permitindo ao aluno a construção de seu percurso formativo. Nesses termos, a aula deve ser encarada como um instrumento pedagógico entre outros. Assim, estimulamos a autonomia, a autodisciplina e a alfabetização científica, pois são os alunos que irão procurar os livros e artigos para cumprir o currículo. Cabe ao professor, nesse contexto, co-orientar, apoiar e instigar cada aluno. Estimulando-o aplicar esse conhecimento na comunidade.

Devemos aprofundar a democracia e a cidadania nas escolas. Os alunos precisam participar ativamente de todas as decisões, cultivando a responsabilidade com o destino coletivo e a solidariedade ao pensar soluções comuns para problemas comuns. Nossa tarefa histórica, portanto, é reinventar a escola e seus agentes, até que os nossos acusadores se atordoem atirando em fantasmas, reflexos de si mesmos.

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YGOR OLINTO ROCHA CAVALCANTE

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – Campus Coari
Grupo de Pesquisa em Cultura(s) de Migração e Trabalho na Amazônia.
Grupo de Pesquisa Sociedades escravistas nas Américas

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