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Contra ‘balbúrdia’, professor cria diário e narra ‘dias na universidade’

POR: ANA LUIZA BASILIO | Carta Capital

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Ele relata atividades diárias e sai em defesa dos demais servidores públicos da universidade, ameaçados com os cortes orçamentários

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“O dia começa antes do expediente, planejando e agendando as atividades da semana que vão incluir ensino: aulas, correção de provas, preparação de trabalhos e reuniões com outros professores; pesquisa: análise de resultados, estudo para novas investigações, orientação de estudantes, redação de artigos científicos para publicação e reuniões com grupos de pesquisa; na extensão: reuniões para organização de um evento de divulgação científica, novos projetos de extensão, e administração: participação em comissões e reuniões de planejamento.”

Este é o resumo de uma segunda-feira na vida do professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo, Moacir Antonelli Ponte. Em um momento em que as universidades, professores e estudantes são enquadrados em narrativas de balbúrdia que colocam em xeque a atividade universitária, Ponte teve a ideia de criar uma página para relatar o seu dia a dia na instituição.

Em uma página criada na plataforma Medium, o professor fez ao menos cinco posts para relatar a semana de 6 a 10 de maio. Um dos textos foi feito no dia em que o governo Bolsonaro anunciou o bloqueio das bolsas de estudo da Capes, momento em que o professor se diz “profundamente preocupado”.

“Há dias felizes, mas hoje é definitivamente triste. Com tanto potencial na universidade para educar, criar, desenvolver e inovar, constatar que essa não é uma prioridade dos nossos representantes traz desânimo e acaba por deixar amargo esse fim de quarta-feira (apesar dos doces). E esse amargor não parece que vai embora tão cedo. Apesar disso, amanhã há de ser outro dia — outra música que vem à cabeça num contexto como o de hoje — e terá mais aula, mais trabalho e mais universidade pública resistindo”, publicou no dia 8 de maio.

O professor também utilizou o espaço para defender os demais funcionários públicos que compõem a universidade e também podem ser afetados pelos cortes orçamentários: “Como docente, sou funcionário público, mas há também os servidores não docentes: o quadro técnico-administrativo, sem os quais seria impossível existir universidade. Apesar da má fama que esta categoria possa ter, aqui trabalho com pessoas extremamente competentes, que fazem gestão administrativa, financeira, de infraestrutura, auxiliam as tarefas acadêmicas, e tantas outras. Somos fiscalizados pelo tribunal de contas que olha tudo nos mínimos detalhes, principalmente o destino e aplicação dos recursos financeiros para as necessidades da universidade”, relatou.

Ponte aborda ainda a categoria dos trabalhadores terceirizados, em particular os encarregados pela segurança e limpeza. “São pessoas fundamentais para que tudo funcione bem. Se esses serviços falharem por um dia, todos sentem o impacto”, atesta.

“O pagamento das empresas que contratam esses funcionários sai das despesas de custeio. Essa verba é uma das afetadas com os cortes previstos para esse ano nas universidades federais, e pode significar uma precarização desses serviços, com a provável necessidade de contratar serviços mais baratos, pressionando os salários já baixos dessas pessoas. Por isso é tão revoltante: quando se usa ‘contingenciamento’ desses recursos (pra mim isso está mais para sequestro, extorsão) em nome da aprovação à força de uma determinada agenda, seja ela qual for, além de afetar a educação, coloca-se em jogo a vida de muitas pessoas”.

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