Mural de Destaques Notícias

Nota de repúdio à perseguição política contra o professor Luciano Bezerra Gomes na UFPB

Professor alvo de denúncia na UFPB diz que usa camiseta do MST como manifestação pessoal de cidadania – Divulgação/Luciano Bezerra Gomes.

Nós, do SINTEFPB, viemos repudiar a perseguição política impetrada contra o professor do curso de Medicina da UFPB, Luciano Bezerra Gomes, o qual está sofrendo processo administrativo oriundo da Ouvidoria da UFPB, a qual alega que o professor está fazendo propaganda política ao ministrar aula usando camisa do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Consideramos que esta seja mais uma ação que caracteriza a penetração da ideologia da “escola sem partido” na estrutura das universidades públicas brasileiras, a qual defende que o tripé da universidade (ensino, pesquisa e extensão) deve ser neutro e livre de conteúdo político, ao passo que defende a tecnificação da universidade direcionada ao mercado e à iniciativa privada, tornando, esta, um quintal do empresariado. Portanto, consideramos que a ideologia da “escola sem partido” está posicionada politicamente ao lado dos grandes empresários brasileiros, o que a torna altamente ideológica.

Defendemos a livre expressão dentro das instituições de ensino públicas brasileiras, as quais se comprometam com um ensino humanizado e que sirvam aos interesses da classe trabalhadora brasileira. Por isso, nos colocamos lado a lado com o professor Luciano Bezerra e com tantos outros que vêm sofrendo perseguições por estarem posicionados na defesa dos direitos das(os) trabalhadoras(es).

 

Diretoria Estadual do SINTEFPB

Confira abaixo a carta aberta escrita pelo professor Luciano Bezerra Gomes à comunidade da UFPB:

 

“Olá, colegas da Universidade Federal da Paraíba.

 

Recebi na tarde de hoje (05/09/23) um processo oriundo da Ouvidoria da UFPB, em que se apresenta uma denúncia de possível ilegalidade de minha parte, alegando que eu estaria fazendo propaganda política por ministrar aula usando camisa do Movimento Sem Terra e usar slide em que aparece a logo do movimento.  Ainda, indicando que outros professores do meu Departamento (de Promoção da Saúde – DPS) também usariam adesivos e alusões envolvendo manifestações políticas.

Responderei formalmente à Ouvidoria, nos termos e prazos previstos em lei, mas uma medida como essas precisa ser compreendida não como uma tentativa de calar um docente, mas como um ataque à livre expressão do pensamento e da manifestação cidadã num espaço plural que deve ser a Universidade.

Assim, considero importante tornar público este fato, compartilhando com esta mensagem o teor da manifestação feita em forma de denúncia e encaminhada pela Ouvidoria, e no mesmo momento afirmar que:

  1. uso regularmente camisas de movimentos sociais como manifestação pessoal da minha ação de cidadania, assim como também utilizo camisas e adesivos do meu sindicato (ADUFPB), sem que isso incorra em uma indevida atuação de minha função docente na relação com outros docentes, discentes e/ou servidores da UFPB;
  2. em relação ao MST, não apenas uso camisas e bonés do Movimento, como coordeno um Projeto de Extensão oficial da Universidade, aprovado em editais da UFPB, que realiza apoio ao setorial de saúde do MST na Paraíba e que tem estudantes bolsista e voluntários, no qual realizamos inclusive atividades de campo em assentamentos e acampamentos, para as quais usamos transporte da Universidade em tais atividades acadêmicas reconhecidas pela instituição;
  3. que não uso slides com finalidade de realizar propaganda política, mas que utilizo o computador de uso pessoal para ministrar aulas, visto que os existentes em sala de aula no CCM não apresentam condições adequadas para as aulas que ministro, como conectividade à internet, e que, na área de trabalho do meu computador constam imagens produzidas nas ações do Projeto de Extensão que coordeno, e que o uso de equipamento de fins pessoais em sala de aula, além de ser efeito da precarização dos nossos ambientes de trabalho, está longe de ser o uso que se afirmou indevidamente ser feito na manifestação encaminhada à Ouvidoria;
  4. esta situação demonstra a maneira como se mantém a perseguição ao pensamento livre nas Universidades Públicas, e como a proposta da Escola Sem Partido continua alimentando a maneira como atuam parte das pessoas que defendem uma sociedade baseada no ódio à diversidade, defendo isso ser combatido por toda a comunidade universitária;
  5. para além de tentar me implicar em conduta ilegal, não praticada, a manifestação insinua que colegas do meu Departamento também estariam desempenhando ações ilegais, quando efetivamente realizam é o papel de educadores em sua plenitude, construindo espaços para a reflexão do papel social da Universidade, e com quem eu já antecipo minha solidariedade;
  6. por fim, dei ciência logo após tomar conhecimento do Processo ao corpo discente da disciplina em que ministro as aulas que foram objeto da manifestação feita à Ouvidoria, sem qualquer intenção de identificar a pessoa que fez tal registro, mas para que pudessem refletir também sobre a situação, cumprindo assim o papel de educador que me cabe como professor, que para além das questões técnicas que me cabem, também tenho o papel de formar pessoas éticas e comprometidas.”

 

Prof. Luciano Bezerra Gomes

Departamento de Promoção da Sáude

Centro de Ciências Médicas

Universidade Federal da Paraíba

1 Comentário

  • Palmira Rodrigues Palhano 14 de setembro de 2023

    Toda solidariedade ao professor. Precisamos de educadores comprometidos. Parabéns. Fascistas não passarão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?