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Conselhos federais de farmácia e enfermagem se opõem aos estágios, apontam banalização do ensino, e anunciam que vão acionar a Justiça
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O Ministério da Educação (MEC) autorizou que as aulas a distância nas universidades federais se estendam até o dia 31 de dezembro, dado o cenário da pandemia do coronavírus. A medida foi publicada na edição do Diário Oficial da União desta quarta-feira 17.
Ainda de acordo com a portaria, as universidades definirão quais currículos serão substituídos e devem disponibilizar recursos aos alunos para o acompanhamento das aulas. O MEC deve ser informado pelas instituições sobre o modelo a ser seguido 15 dias antes das atividades letivas.
O documento ainda informa que as atividades acadêmicas suspensas no momento da epidemia devem ser repostas, para cumprir a carga horária.
A mesma portaria permite a execução de estágios online, com exceção dos estudantes de Medicina a partir do quinto ano.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) se pronunciou em seu site e alegou “incredulidade” diante da portaria do MEC e afirmou que vai recorrer à Justiça contra os estágios não presenciais.
“Estágio não-presencial é uma farsa, um verdadeiro estelionato educacional”, afirmou o presidente do Cofen, Manoel Neri. “No caso da enfermagem representa a banalização do ensino. Não podemos permitir que enfermeiros concluam o curso superior sem a realização de estágios onde prestem assistência a pessoas reais. Isto representaria um risco para a população que venha a ser assistida por estes futuros profissionais. Não podemos concordar que em nome da pandemia do novo coronavírus, o MEC, juntamente com segmentos do setor privado da educação, tentem implementar um modelo de ensino tão lesivo à sociedade”, finalizou Neri.
Ainda de acordo com o Cofen, a portaria do MEC ignora o posicionamento técnico do próprio Departamento de Gestão do Exercício Profissional do Ministério da Saúde (DEGERTS/MS), do Conselho Nacional de Saúde, instância máxima de controle social do SUS, e do Fórum dos Conselhos Federais da Área da Saúde (FCFAS), que se posicionam a favor da graduação presencial na área da Saúde.
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) também se colocou contra a permissividade dos estágios à distância pelo MEC e afirmou que vai entrar na Justiça.
“A portaria afronta todos os princípios de qualidade do ensino, visto que o aprendizado em saúde demanda o desenvolvimento de habilidades que não se aprendem a distância. O CFF se mantém firme em seu propósito de defesa do ensino presencial e lutará com todas as armas contra o EaD”, comentou o presidente do conselho, Walter da Silva Jorge João. Em fevereiro do ano passado, o presidente anunciou a decisão de não registrar diplomas de egressos de cursos a distância. Até agora, nenhum profissional se graduou ainda por meio desses cursos.
O conselho ainda condena a possibilidade dada aos cursos para que editem seus programas por meio de conselhos internos da instituição.
“Assistimos com estupefação a banalização do ensino e estamos temerosos pelo resultado de uma medida completamente irracional. Todo o planeta está sendo afetado por essa pandemia, é fato. Mas a circunstância não pode determinar uma medida que resultará num risco tanto para a população que dependerá do cuidado desses profissionais sem o devido preparo, quanto para os próprios, que estarão sujeitos às sanções por eventuais erros profissionais”, avalia a presidente da Comissão Assessora de Educação Farmacêutica do CFF, Zilamar Costa.
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Por: Redação Carta Capital – Educação.
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Sem participação do MEC, secretarias definem como será a voltas às aulas
A data ainda não foi definida, mas um novo modelo de escola deve ser criado para receber novamente os alunos
A volta às aulas no Brasil ainda não foi definida, mas o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) já definiu como o retorno se dará. Os secretários estaduais elaboraram a cartilha nacional, divulgada nesta terça-feira 16, para que os Estados façam adaptações às realidades locais, principalmente em relação às ações sanitárias.
“A discussão no Conselho não foi quando voltar, mas como voltar”, afirmou a presidente do conselho, Cecília Motta. Embora seja orientado principalmente para escolas públicas, a cartilha do Consed também influencia as particulares. O documento, produzido sem a participação do Ministério da Educação (MEC), serve para a criação de protocolos de retorno às aulas presenciais.
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Veja abaixo as principais mudanças:
- A máscara, assim como em outros estabelecimentos, será obrigatória para os alunos e professores.
- As escolas vão ter menos alunos por sala e só atividades individuais, nada de trabalhos em grupo.
- Haverá rodízio entre estudantes em sala e em casa, com continuidade das atividades online.
- No intervalo, refeitórios terão lugares marcados para que estudantes mantenham a distância entre si. Cada um deverá ter a própria garrafinha de água.
- Haverá sinalização de rotas dentro das escolas para que os alunos mantenham distância entre si.
- Higienização dos sanitários
- Controle de temperatura de estudantes a servidores e estações de higienização.
- As escolas devem apresentar alternativas para o cumprimento da carga horária mínima anual com ampliação da jornada diária e reposição de aulas aos sábados ou à noite.
- Há possibilidade de prorrogação do calendário para o período de recesso ou para o ano seguinte.
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O texto foi elaborado a partir da experiência de outros países que já retornaram às aulas e tomou por base, ainda, propostas de protocolos criadas por estados que já se adiantaram nesse quesito. Fundado em em 1986, o Conselho Nacional de Secretários de Educação é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, que reúne as Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Federal.
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Por: Redação Carta Capital – Educação.
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