Os delegados ao V CONSINTEF lotaram o auditório do JR HOTEL, no Centro de João Pessoa, ontem (26), das 19 horas às 21h30min, para a abertura do evento. O sindicalista Juary Luís, integrante da CSP-Conlutas e do Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos, fez a palestra de abertura do congresso abordando o tema da formação política sindical. Shilton Roque e Alexandre Fleming, da diretoria nacional do SINASEFE, estão participando do evento.
O sindicalista iniciou sua palestra abordando o tema dos movimentos sociais que estão acontecendo em todo o País. Para ele, esses movimentos são fruto de uma explosão espontânea das massas, principalmente da juventude, que durante os últimos quinze anos mantiveram-se passivas diante das contradições sociais do sistema capitalista que têm se agravado e aumentado a exploração do trabalhador.
Ele reconheceu a importância do movimento pela rapidez com a qual as conquistas foram alcançadas. No entanto, acha que o movimento não resultará em grandes mudanças uma vez que falta planejamento. “Uma ação política espontânea é facilmente manipulada pelo governo e é o que já está acontecendo”, analisou o sindicalista, acrescentando que as concessões feitas pelo governo, ao movimento, contemplam apenas algumas pautas conservadoras que só beneficiam os grandes partidos políticos e setores dominantes da sociedade.
Jaury sugeriu que os segmentos organizados da sociedade civil, a exemplo dos sindicatos e partidos políticos de esquerda, bem como os movimentos sociais, devem se preocupar em participar destas mobilizações de forma organizada defendendo pautas que contemplem, realmente, a classe trabalhadora, a exemplo da auditório sobre o pagamento da dívida, preços justo para os transporte públicos e a aplicação imediata da alíquota de 10% do PIB na educação.
O palestrante alertou para a importância da formação política dos trabalhadores pela via alternativa dos sindicatos e movimentos sociais, reconhecendo que as instituições formais de educação só alienam o trabalhador. Neste sentido, o trabalhador precisa aprender a analisar, conhecer e julgar a realidade na qual está inserido politicamente, para poder planejar intervenções que resultem em conquista efetivas para melhorar sua condição de vida, alertou.
Revisando princípios da economia política, Jaury lembrou que o trabalho no capitalismo é alienado uma vez que o trabalhador não se apropria efetivamente do resultado da sua produção. Desta forma, para o sindicalista, só haveria um forma de superar o problema que seria com a libertação do trabalhador através da luta pelo fim da exploração capitalista.
Para ele, se faz necessário que os trabalhadores aprendam a deflagrar suas lutas apoiados em princípios econômicos, políticos e com base teórica. “Só assim os trabalhadores conseguirão dar sentido político às suas lutas”, assinalou o sindicalista, encerrando sua palestra recorrendo à máxima do revolucionário soviético Vladimir Ilitch Lenin: “Não há prática revolucionária sem teoria revolucionária e vice-versa”.
Ao final da palestra, os delegados fizeram um debate sobre as questões mais polêmicas da palestra, a exemplo da espontaneidade dos movimentos sociais, que estão acontecendo no País, representação sindical, cojuntura econômica, política e social da classe trabalhadora, além do tema da palestra que foi a formação política sindical dos trabalhadores.
Mesa de Abertura do V CONSINTEF
ENTREVISTA:
Juary Luís concedeu entrevista à coordenadora geral do SINEFPB, professora Vania Medeiros, sobre formação política sindical. Leia a entrevista:
Vania Medeiros: Como o seu grupo institucionalizou o trabalho de formação política junto às entidades sindicais?
Juary Luís: O ILAESE (Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos é um instituto de formação política para organizações operárias e sindicais. Não somos neutros na luta entre trabalhadores e patrões: estamos incondicionalmente do lado dos pobres, contra os ricos! Fazemos parte de um setor da classe trabalhadora que compreende a importância de estabelecer a formação teórica classista como um instrumento fundamental na organização dos trabalhadores.
Vania Medeiros: De que modo a formação política estrutura a luta dos trabalhadores?
Juary Luís: Nós entendemos a luta dos trabalhadores só pode ser vitoriosa se unir a luta econômica, a luta política e a luta teórica em uma perspectiva. Da mesma forma que a formação teórica sem ir à prática leva a um academicismo estéril, a luta econômica e política na prática, sem uma formação teórica e uma capacidade reflexiva de analisar a realidade para formular intervenções que ajudem de fato na nossa tarefa de transformar a realidade de nada servem. Por isso que a formação é uma questão tão importante, pois não existe possibilidade de vitória sem ela. Para conhecer a realidade, analisá-la, saber quem são nossos aliados, nossos inimigos, as melhores táticas, etc., é preciso estudo e formação.
Vania Medeiros: . Como você avalia o processo de formação política nos movimentos sindicais no Brasil? E quais as perspectivas?
Juary Luís: Infelizmente o trabalho de formação política no Brasil regrediu muito nos últimos tempos. Na nossa opinião, existem fatores objetivos e subjetivos que justificam isso. O primeiro é de que houve, de fato, toda uma propaganda ideológica capitalista de que não se deveria apostar na luta de classes, que o capitalismo venceu. Isso foi resultado de uma conjuntura muito difícil que se abriu sobretudo a partir da década de 90, no auge do neoliberalismo. Mas, além disso, outros fatores contribuíram. Sobretudo depois que o PT e a CUT (e seus institutos de formação) resolveram defender uma perspectiva de gerenciamento do sistema capitalista, houve uma grande deseducação da classe trabalhadora para a luta. Felizmente, abre-se agora um novo momento no Brasil, de fortes mobilizações, e os trabalhadores estão entrando em cena. É fundamental que nesse novo momento político possamos investir na formação para recuperar a nossa capacidade analítica e avançar no processo de organização e elaboração programática para as próximas lutas que estão por vir.